terça-feira, 30 de outubro de 2007

A “Mostra Zero” de música moderna (Almada, 1995)


A primeira Mostra de Música Moderna de Almada realizou-se em Março de 1995, no Clube Recreativo Piedense. Chamou-se “Mostra Zero”, porque era ainda uma “edição experimental”. Por lá passaram 30 bandas, entre as quais alguns “nomes sonantes”, da época (como, por exemplo, Bizarra Locomotiva, Capela das Almas, Trauma, Noctivagus, Thormenthor...).




Outros talvez menos conhecidos, mas também já muito apreciados em Almada. Por exemplo, os Monsterpiece...

E uns “putos novos”, inscritos aparentemente à pressa (como se pode ver, são os últimos a aparecer no catálogo oficial do evento...). Uns “putos” que, mais tarde (e até hoje), dariam muito que falar: Pois, esses mesmo: os Da Weasel.
Ora vejam isto aqui:


No entanto, a realização da mostra de Música Moderna não foi a única novidade desse Março de 1995. É que, precisamente na mesma altura, realizou-se também a primeira Quinzena da Juventude de Almada (antes era “apenas” uma Semana da Juventude).
A propósito dessa “novidade”, o vereador António Matos (da Câmara Municipal de Almada) afirmava então ao semanário Sul Expresso:

«Este ano tivémos, por opção própria, um pouco mais de condições para apoiar iniciativas. Por isso, demos mais acolhimento às propostas que nos chegaram das associações de jovens, designadamente das que se deedicam à área da cultura e em particular às bandas de música moderna. (...) É nossa intenção continuar com este projecto que este ano, por ser uma experiência, chamámos “mostra zero”.»

Mais adiante, o vereador anunciava a intenção de abrir, logo no ano seguinte, a Casa da Juventude do Laranjeiro (que hoje é conhecida como “casa amarela”).

«A CMA quer abrir, em 1996, um espaço para a música jovem. Um auditório criado para as bandas locais apresentarem o seu trabalho, e para receber bandas de fora do concelho. Será um espaço vocacionado para a realização de concertos para um público de algumas centenas de pessoas. Isto está ainda a ser estudado. Se tudo correr bem, este espaço pode abrir já em 1996 ou, pelo menos, estar em fase de conclusão».

As perspectivas de António Matos eram, então, muito optimistas (o espaço só viria a ser inaugurado alguns anos mais tarde). Mas a preocupação em anunciar a abertura de um local «para as bandas» demonstrava a “força” que a “música moderna” tinha então, em Almada. Os músicos passaram a referir-se àquele espaço como o futuro “rockódromo” da cidade. E, para dialogar com a Câmara, com vista a apressar o processo e exigir mais apoios, tentaram mesmo unir-se numa associação. Seria a Associação Livre de Músicos de Almada (ALMA). Nos anos posteriores, chegaram a dar alguns passos nesse sentido, mas nunca se constituíram como associação.
Entretanto, o movimento de bandas de “garagem” não parava de crescer. As edições seguintes da “mostra” vieram demonstrar isso mesmo!

António Vitorino

Mostras de Música Moderna em Almada: 1996 a 1999

Em 1996, a “Mostra Um” realizou-se no “mítico” (e, pouco depois, demolido...) Espaço Lemauto, em Cacilhas (junto ao quartel dos Bombeiros).
Foi também nesse ano que, impulsionada por Paulitus (músico e dinamizador cultural, importante figura do meio “alternativo” almadense dos anos 90), começou a tomar forma a Associação Livre de Músicos de Almada (ALMA). Embora a ALMA nunca se tenha constituído formalmente como associação, conseguiu algumas “vitórias”, enquanto “grupo de pressão” representativo dos elementos das bandas.

Transcrevo, do jornal Sul Expresso, uma tentativa de caracterização do que era, neses anos, a "cena musical alternativa" de Almada:

Nenhum músico de Almada gosta de ser "catalogado". Mas a verdade é que ideias e projectos não faltam, abrangendo praticamente todas as áreas da "música moderna", desde o mais límpido "pop" aos mais pesaados sons das diversas vertentes do "metal. «Hoje em dia, qualquer "puto" de doze anos junta um grupo de amigos para formar uma banda», diz-nos um jovem mais "idoso", músico de Almada «com orgulho».

Exemplo (e novidade da “Mostra Um”): a constituição de um grupo de trabalho, com represententes da ALMA e da Câmara de Almada que, em conjunto, organizaram o certame desse ano. Uma experiência que resultou e que, por isso mesmo, se repetiu nos anos seguintes.

Em 1997, demolida a Lemauto, a “mostra” fez-se mesmo nos “subterrâneos” (leia-se: garagens) do quartel dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas.



O número de bandas em actividade era sempre crescente, nesses anos da década de 90. Isso levou até a que a Câmara de Almada fosse obrigada a impôr, pela primeira vez, restrições à participação na “mostra”.

Mais uma vez, recorro ao semanáro Sul Expresso, neste caso de Abril de 1997 (se ainda não perceberam: é porque os textos que estou a citar são de artigos e entrevistas escritos por mim...):

Há quem assegure que no concelho «existe perto de uma centena de bandas». É o que diz Rui Pereira, funcionário da Casa Municipal da Juventude. «Temos um registo de bandas que aponta nesse sentido», garante. E acrescenta que «na recente Quinzena da Juventude, prevíamos ter trinta grupos a participar, mas chegaram-nos o dobro das candidaturas; se a estes juntarmos os que ainda não têm condições para tocar ao vivo, chegamos à conclusão de que devem andar por aí mais de cem bandas!». (Texto completo aqui)

Uma centena de bandas, ou mesmo mais? Não se admirem: havia muita gente que participava em várias ao mesmo tempo.

Em 1998, a “Mostra Três” realizou-se numa tenda, em zona central da cidade (na Praça São João Baptista, que ainda não tinha as esplanadas da “fast food”). Participaram 41 bandas (nesse ano, com as expressões do hip-hop a marcar forte presença, equilibrando assim o certame que, em edições anteriores, era essencialmente “pop” e “rock”). E, pela primeira vez, o evento teve direito a “cabeças de cartaz” assumidos.
Por exemplo: Lulu Blind, Thormenthor, Líderes da Nova Mensagem, Black Company... e os tais “putos” que, três anos antes, eram os últimos a inscrever-se na “Mostra Zero”. Pois, adivinharam: os Da Weasel (que eram, já em 1998, uma banda “crescidinha”)!

Em 1999, a fechar a década, a mostra torna-se, pela primeira, vez autónoma em relação à Quinzena da Juventude. Assume, em definitivo, um “estatuto” próprio, e passa a realizar-se em Julho. Nesse ano, são 40 as bandas que passam, então, pelo pretigiado palco do Salão de Festas da Incrível Almadense.

Lia-se no programa dessa edição:

“A quinta edição da Mostra de Bandas de Música Moderna de Almada realiza-se este ano, pela primeira vez, no mês de Julho, enquanto iniciativa autónoma. Quer por se traduzir num momento que reflecte algum do trabalho produzido por parte das bandas do concelho, quer pelos encontros, permutas e dinâmicas que proporciona, esta iniciativa constitui um momento de particular alegria e riqueza no seio do movimento musical almadense. A diversidade de bandas, estilos musicais e todo um trabalho que continuamente as bandas vêm desenvolvendo, foram algumas das razões pelas quais a Mostra adquiriu um espaço próprio, susceptível de proporcionar novas conquistas ao nível da consolidação da própria iniciativa”.
A Mostra de Bandas de Música Moderna de Almada teve ainda mais 4 edições nos anos seguintes (que, finalmente, passaram a ter lugar na Casa da Juventude do Laranjeiro – a “Casa Amarela”, ou seja, o ex-“futuro rockódromo”...).
Em 2004, Câmara e bandas chegam a acordo para modificar o “modelo” do certame. Nasce, então, o Concurso de Música Moderna.
Mas isso é outra história, para ser contada numa outra ocasião.

António Vitorino

Entrevista com Marco Franco e Miguel Paulitus (Almada, 1995)

Em 1995, quando o movimento cultural “alternativo” de Almada começava a conquistar espaço e visibilidade, a “música moderna” era um dos pilares mais fortes dessa “movida” juvenil.
A revista Sem Mais (de Setúbal) publicava, em Novembro desse ano, uma entrevista com dois intervenientes nesse processo: o famoso Paulitus e o conceituado Marco Franco.

Sem Mais - Porquê esta proliferação de bandas no concelho de Almada?

Paulitus – Tem a ver com uma certa tradição. A partir do final dos anos 70, com o advento do movimento punk era habitual as pessoas juntarem-se em garagens para fazer música. Outra razão é que, em Almada, sempre existiu um grande espírito de colectivismo. Enquanto nos outros lados um gajo arranja um sampler ou coisa parecida e faz quase tudo sozinho, aqui o pessoal junta-se e faz uma banda.

Marco Franco – Eu não dou grande importância a isso, porque há músicos em todo o lado, não apenas Almada. Se as pessoas quiserem, fazem as suas bandas.
Depois, fazer uma banda é complicado, é preciso conjugar as várias personalidades que a compõem e ter um espaço onde as pessoas se possam encontrar para ensaios e para desenvolver as suas ideias. Isso nem sempre é fácil de conseguir.

SM – Notas alguma evolução no panorama da música moderna portuguesa?

Marco – Sim. Os músicos preocupam-se mais com a sua formação e estão a tocar melhor. Há a perspectiva de o músico valorizar o seu trabalho, no sentido de não tocar apenas numa banda, como acontecia até há pouco. Há muitos que tocam em várias bandas e isso tem de ser encarado de uma maneira natural. Afinal de contas aquela ideia de que alguém só podia pertencer à “sua” banda, está desactualizada, é absurda e revela pobreza de espírito.

SM – Isso quer dizer que os músicos dão mais importância à música propriamente dita do que à possibilidade de ter uma banda?

Marco – Sim. Eu, por exemplo, participo em várias.

Paulitus – Há mesmo maiores preocupações técnicas e até mesmo estéticas. Por exemplo, há cada vez mais pessoal de bandas a frequentar escolas de música, e mesmo no Conservatório (onde às vezes apanham alguns vícios). Há a preocupação de poder mostrar mais qualquer coisa, até porque cada vez há mais músicos e isso dá origem a uma “concorrência” saudável. Saber tocar bem é muito importante para o público de Almada; até porque aqui “o público” acaba por ser os músicos. As bandas de Almada, quando tocam na sua terra, “tremem de responsabilidade”. Quando vão para outros lados, para a província ou para Lisboa (que é quase a mesma coisa) ficam um pouco mais à vontade.

SM – Nota-se que, em Almada, há muitas bandas mas poucos concertos. Porquê?

Marco – O circuito é muito restrito. Em Almada, não existe uma única sala para fazer regularmente este tipo de espectáculos. Mesmo em Lisboa, só no Johnny Guitar é que se fazem espectáculos com regularidade. Nas rádios de Almada não existem programas de divulgação de música alternativa. O mesmo se passa na generalidade das rádios locais. Por tudo isto, uma banda “de garagem” que não tenha contrato com uma editora ou outros meios de divulgação, terá sempre maiores dificuldades em conseguir fazer concertos. E depois, há alguma tendência de certas editoras em deter o monopólio dos circuitos e trabalharem só com as bandas que já são conhecidas.

Paulitus – Exactamente. E um produtor, ou um organizador de espectáculos, que queira atrair público e dinheiro, não arrisca com bandas desconhecidas.

SM – No entanto, apareceram agora algumas editoras independentes...

Marco – É verdade, e essas editoras já estão a dar oportunidades aos músicos desconhecidos. Eu espero que essas editoras cresçam e ganhem força para divulgar os novos valores e outras formas de expressão musical, sem ser a música mais comercial.

SM – Mas aí começava a “entrar” a questão dos lucros...

Marco – O que é óptimo: quanto mais a editora ganhar, mais ganham as bandas. É preciso divulgar a música alternativa para ganhar o mercado. Eu penso que isso é perfeitamente possível. Mas há também uma questão de cultura musical. Cada vez mais as pessoas preocupam-se em conhecer as novas tendências da música actual, sem se preocuparem com “rótulos”.

Paulitus – É também uma questão de consciência por parte dos músicos, que deviam estar mais unidos na defesa dos seus interesses. O melhor seria criarem as suas próprias editoras, os seus próprios meios de divulgação e de organização de concertos.

SM – No caso concreto de Almada, existem ideias para a criação de uma associação de músicos?

Paulitus – Sim, e já se fizeram reuniões com várias bandas para conretizar o projecto. Até já existe o nome: Associação Livre de Músicos de Almada (ALMA). A ideia seria criar uma espécie de lobby. Há vontade, mas faltam os espaços para trocar ideias. O único espaço que existe é a Casa Municipal da Juventude (Ponto de Encontro, em Cacilhas), mas para que funcionasse bem seria necessário que tivesse mais actividade, mais concertos. Por outro lado, os músicos de Almada não sabem bem quais são os meios de que podem dispor: não sabem que existem salas de ensaios na Casa da Juventude. Existem outros espaços na cidade, armazéns abandonados, que poderiam servir... Outra questão é a taxa aplicada aos instrumentos musicais. Os governos ainda não perceberam que se trata de um instrumento de trabalho e não de um objecto de luxo. Fala-se muito no problema do desemprego, mas se acabassem com esse imposto, tenho a certeza que muitos músicos se tornariam profissionais, diminuindo em muito o desemprego juvenil. Pelo menos em Almada. E é bom não esquecer que a actividade musical pode também contribuir para minorar os problemas relacionados com a droga e a delinquência juvenil: quem faz uma coisa criativa e ganha algum dinheiro com isso certamente não pensa ir “arrumar carros”.

Entrevista de António Vitorino
(Publicada na revista Sem Mais, edição 21. Setúbal, Novembro 1995.)

Histórias da “Música Moderna” em Almada: «Tocam pelo papel?...»

Em 1997, no auge do crescimento das “bandas de garagem” almadenses, o semanário local Sul Expresso tentava fazer um “ponto da situação”. Aqui vai o texto completo desse artigo:


No concelho de Almada são inúmeros os grupos de jovens que se dedicam a expressões musicais “alternativas”. O movimento, já antigo, tem crescido nos anos mais recentes. Mas, se as bandas são muitas, grandes são também as dificuldades que enfrentam.

Almada tem revelado nomes importantes no panorama musical português. Casos como os UHF ou os Xutos e Pontapés são sobejamente conhecidos. Mais recentes, os Da Weasel constituem outro bom exemplo de grupo que, nascido em Almada, ganhou fama e reconhecimento junto de largas franjas de público.
Na “rectaguarda”, algumas dezenas de agrupamentos tentam impor o seu trabalho. Tarefa dificultada pela falta de locais de ensaio, pela escassez de concertos e pelo «alheamento por parte da comunicação social», dizem-nos.
Ainda assim, há quem assegure que no copncelho «existem pero de uma centena de bandas». É o que diz Rui Pereira, funcionário da Casa Municipal da Juventude de Almada. «Temos um registo de bandas que aponta nesse sentido» garante. E acrescenta que «na recente Quinzena da Juventude, prevíamos ter 30 grupos a participar, mas chegaram-nos o dobro das candidaturas; e se a estes juntarmos os que ainda não têm condições para tocar ao vivo, chegamos à conclusão de que devem andar por aí mais de cem bandas!».

Faltam salas para concertos

A “Mostra” anual integrada na Quinzena da Juventude (em Março) é das poucas oportunidades dadas às bandas para revelarem o seu trabalho. A falta de locais apetrechados para acolher concertos é uma das principais dificuldades referidas pelos músicos. Em Almada, o “Ponto de Encontro” – Casa Municipal da Juventude (CMJ) reúne essas condições. A autarquia adquiriu aparelhagem de som para espectáculos do género. Mas os elementos das bandas não estão satisfeitos porque «raramente se fazem lá concertos».
Rui Pereira responde: «a CMJ é o local indicado para as bandas darem concertos; nós estamos totalmente receptivos, é só virem até cá, fazerem propostas para actuarem aqui».
Com mais ou menos espectáculos, a CMJ é, no entanto, excepção. No concelho, apenas meia-dúzia de bares abrem as portas às bandas de “música moderna”. Mas, conforme refere Miguel Aarons, vocalista dos “Jardins de Pedra”, «esse circuito é muito limitado, porque certo tipo de bandas mais “barulhentas” não são aceites». Normalmente, acrescenta, «eles dão prioridade a concertos acústicos: nós, por exemplo, não vamos tocar a esses bares». Aarons refere que «até há pouco tempo o Ginásio Clube de Corroios era o local que dava mais oportunidades, mas parece que agora está um bocado parado...».

Música, serradura, ovelhas e porcos

Os Jardins de Pedra são dos grupos mais activos na margem sul. Com ano e meio de existência, já deram muitos concertos por todo o país. Um caso de persistência e de boa gestão: levam «muito a sério» a divulgação do seu trabalho. Mas, também eles, enfrentam dificuldades quotidianas. «Temos ensaiado nos sítios mais estranhos», diz o vocalista. «Primeiro, estivémos numa vacaria; agora ensaiamos numa serração, em Vale de Milhaços». Pelo meio, algumas histórias curiosas. «Quando estávamos na vacaria, tinhamos um espectador: um pastor que passava por lá com um rebanho de ovelhas. Um dia, o homem encosta-se ao cajado, fica a ver-nos ensaiar e, no fim, pergunta: vocês tocam pelo papel?».
Aarons responde que «na banda só eu tenho formação clássica, portanto sei ler pauta; mas isso para nós não é importante». Outro caso “exemplar”: «agora que estamos na serração, como é também um espaço emprestado, ficamos sujeitos à disponibilidade do dono do local; hoje, por exemplo, não ensaiámos porque o homem foi lá matar um porco!».
Mais divertido que preocupado, Aarons acrescenta que «nesse aspecto também não somos muito exigentes: onde existir corrente eléctrica, nós ensaiamos». Apesar do pó de serradura: «para não estragar os instrumentos só deixamos lá o bombo da bateria...».

Gravar é prioridade

Outras bandas têm problemas semelhantes. No Feijó, alguns agrupamentos ocupam (partilham) uma garagem. Mas, dizem os membros dos Blood Quest, «aquilo fica numa zona de habitação e, nos primeiros tempos, tivémos problemas com os vizinhos por causa do barulho; até foi lá a fiscalização da Câmara». Apesar das dificuldades, a maior parte das bandas reconhece que «essas soluções acabam por ser as melhores, até porque alugar um estúdio para ensaios custa muito dinheiro».
Juntar dinheiro para gravar é outra ambição das bandas contactadas pelo SulExpresso. Em estúdio estão os Glide, gravando uma maquete, «só com três temas, para divulgar junto da comunicação social e das entidades que promovem concertos», diz Ivan, o baterista da banda.
Os elementos dos Glide não divulgam o “preço” pago pela gravação. Já Miguel Aarons adianta que «a cassete dos Jardins de Pedra, que foi gravada em quatro estúdios diferentes, custou cerca de 80 contos».
Um passo decisivo para melhorar a “vida” das bandas seria, na opinião dos entrevistados, a criação de um novo espaço da Câmara Municipal de Almada. Trata-se da Quinta de Santo Amaro, no Laranjeiro, imóvel adquirido há vários anos pela autarquia. Para o local, estão projectados estúdios de ensaios e gravação, bem como uma sala de espectáculos, a que os músicos já chamam «rockódromo». Mas, alegadamente por falta de financiamentos, a autarquia tem adiado a concretização do equipamento.
As bandas esperam. Mas não desesperam: do trabalho persistente e “subterrâneo” alguma coisa de substancial há-de nascer. Grupos como os Monsterpiece já começam a dar nas vistas (e nos ouvidos, pois então). E, da actual quantidade, outros se preparam para o salto qualitativo. «Almada ainda tem muito para dar à música moderna», é o recado final.


António Vitorino

(Publicado no jornal Sul Expresso. Almada, Abril de 1997)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Romeu Correia

A propósito da exposição documental
“Romeu Correia: vida e obra”
patente ao público entre 28 de Setembro e 30 de Novembro de 2007, na Casa Pargana – Arquivo Histórico Municipal de Almada, um “texto de apoio” à referida mostra:

É rica a obra literária que Romeu Correia legou à comunidade. Escreveu para testemunhar a vida e os problemas do seu tempo. Desde a sua estreia literária em Sábado Sem Sol (1947), Romeu Correia, com a sua natural vocação e coerência, aperfeiçoou o seu ofício da arte de escrever novelas, contos, peças teatrais, crónicas. Um poeta na prosa dos seus romances ou nos diálogos do seu teatro. A sua singularidade literária não estava numa escrita barroca, nem na abordagem de temas alheios ou na novidade de estrutura textual. A originalidade estava na voz do povo - o âmago da sua admiração, com a qual se identificou e a que se orgulhou pertencer. O instinto de saber mergulhar, com coragem e transparência, na história das gentes da Outra Banda com quem conviveu. O próprio autor quando agradeceu o Prémio Ricardo Malheiros - 1976, que lhe foi entregue pelo presi­dente da Academia das Ciências, pronunciou as seguintes palavras: «(...) fui testemunha dos trabalhos forçados da grande maioria do povo deste País, e isso nunca eu o poderia esquecer ao pegar na pena para elaborar as minhas histórias ou meus dramas. Meio século de espectáculo, por vezes tão degradante, de pequenas e grandes injus­tiças e atropelos de classe, sentidos até na própria carne, constituiu pois alfobre de temas e de figuras que a sociedade me impôs, com severa prioridade, para os meus trabalhos. Nunca poderia enveredar, portanto, sem traição de consciência (e de classe, pois então!), por caminhos ínvios, cuidando de gentes e de lugares doutros quadrantes, alheios, sem dúvida, à minha sensibilidade e ao meu coração. O concelho de Almada, torrão que me foi berço e de que, pela vida fora, jamais me apartei, identificando-me com o seu latejar quotidiano, é quase sempre o cenário físico onde animo os conflitos sociais da minha novelística ou do meu teatro. Raro desloco a objectiva para outras paisagens, embora o meu ofício e a minha imaginação exercitada me tentem, de quando em vez, apartar-me de tantos mundos que me são queridos».
Romeu Correia foi classificado por alguns críticos literários como um escritor populista. Fernando Mendonça foi categórico: «o facto de Romeu Correia utilizar o povo, o seu romanceiro, os fantoches ou o colorido da alma popular não lhe confere fisionomia populista». O autor faz parte daquela plêiade de dramaturgos, dos quais se destacam: Luís Francisco Rebelo, Bernardo Santareno e Luís Sttau Monteiro que a partir do pós-guerra procuraram imprimir ao teatro português uma orientação realista de estrutura mais imaginativa.
Ficcionista cuja obra está profundamente marcada por traços de uma personalidade original. Escreveu Trapo Azul, Calamento, Gandaia, Desporto-Rei, Bonecos de Luz, O Tritão, Cais do Ginjal - romances que suscitaram da parte da crítica as seguintes palavras: «é um dos poucos escritores portugueses com alguma coisa que dizer e com coragem de dizer quanto vê, quanto pensa, quanto sonha».
Como dramaturgo, foi um dos autores mais representados, quer por amadores, quer por equipas profissionais. A carreira dramática de Romeu Correia caracterizou-se por uma aplicada coerência. Todo o nosso pais conhece as peças teatrais: Casaco de Fogo, O Vagabundo das Mãos de Oiro, Jangada, Bocage, Laurínda, Céu da Minha Rua, O Cravo Espanhol, Roberta, Grito no Outono, As Quatro Estações, Tempos Difíceis, O Andarilho das Sete Partidas, A Palmatória, entre outras. Um dramaturgo seguro do seu ofício de recriador do quotidiano imaginado e autêntico, de maravilhoso e vulgar, de artificioso e real -, só Romeu Correia seria capaz de escrever peças como O Vagabundo das Mãos de Oiro, Bocage, O Andarilho das Sete Partidas. Ler uma peça da sua autoria é sentir os personagens no palco. Como defendeu António José Saraiva: a «maior revelação teatral do neo-realismo está em Romeu Correia, autor de O Vagabundo das Mãos de Oiro. Desde a primeira página o leitor sente que as suas personagens vivem e contracenam».
Contador de histórias, romancista, dramaturgo, coloquiador admi­rável, dinamizador cultural, ele é também a memória falada do passado próximo e remoto das gentes da Outra Banda. Romeu Correia é um artista que viveu no meio do seu povo, junto da margem do rio Tejo com
as suas tradições, vicissitudes e vivências associativas.
Homem com fiéis admiradores, legenda viva, direi mais, uma figura lendária de que Almada e suas gentes legitimamente se orgulham.
Com esta exposição pretende-se dar a conhecer um síntese da actividade literária de Romeu Correia ao público em geral e, em particular, aos professores, estudantes e aos mais novos que ainda desconhecem a vida e obra do escritor almadense .

(Alexandre Flores, texto de apoio à exposição documental “Romeu Correia: vida e obra”. Edição Câmara Municipal de Almada, 2007. As imagens são da mesma publicação.)

domingo, 14 de outubro de 2007

“Tasquinhas e burricadas”, em Cacilhas

Tasquinhas e Burricadas – evento organizado pelos Escuteiros de Cacilhas. Decorreu
no domingo, 24 de Setembro de 2007, nas ruas daquela localidade almadense.
Com algum atraso (desculpem lá....), aqui fica a foto-reportagem.

Fotos de Mio







Mais sobre este evento

No blogue de Ermelinda Toscano:
metoscano.blogspot.com/search?q=burricadas

No blogue de Luís Milheiro:

casariodoginjal.blogspot.com/search?q=burricadas