quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

"Tempo Meu" - poesia de Alexandre Castanheira

CANTO NOVO DA ALEGRIA

(À memória de Manuela Bento e Cezarina Marques
do Coral Canto Novo)

É próprio do homem sonhar
com um futuro são, risonho,
que nos dê vontade de cantar
a realidade vinda do sonho.

Só esse canto é que se diz novo
pois abre as estradas do porvir;
só esse é amado pelo povo
que em vez de sofrer quer sorrir.

Assim pensava Manuela Bento,
discreta mulher mas muito firme
no dar à esperança o complemento
de um canto de certeza que se afirme.

Tal como a coralista Cezarina
- ambas capazes de afastar obstáculos
(como se fosse essa a sua sina!)
p’ra ‘starem presentes nos espectáculos

que fossem p’ra levar para diante
a voz cantada do bem querer,
que o povo oiça e se levante
e ponha fim a todo o padecer.

Marcaram o Coral eternamente,
merecem ser lembradas por nós:
seu Canto Novo enche-nos a mente
da vontade de a todos se dar voz.

Sempre que ouvimos o seu Coral
continuamos a tornar novo o canto
cuja missão é dar luta ao mal
e fazê-lo cantando com encanto.

Em qualquer lado em qualquer sala,
conjugamos em poema e harmonia
esta determinação que não se cala
de fazer reinar no mundo a alegria.

Alexandre Castanheira


poema incluído na obra
"Tempo Meu"

caderno nº 62 da colecção
Index Poesis - Uma Dúzia de Páginas de Poesia"
Edição Poetas Almadenses, Fevereiro 2008

Mais poemas do autor, no blogue Debaixo do Bulcão:


Texto de Romeu Correia sobre Alexandre Castanheira e a peça de teatro “Chico do Norte”

«Alexandre Castanheira na minha memória

Por volta de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, em que se travava uma luta de vida ou de morte pela Democracia, e ainda as hostes nazi-fascistas estavam na mó-de-cima, alguns jovens empreenderam na então pacata vila de Almada uma dinamização cultural. Criaram a Biblioteca Popular da Academia Almadense, ressuscitaram a dúzia de livros esquecidos (desde 1931) num escaparate de outra colectividade, a Incrível, promovem palestras e recitais de poesia por outras agremiações. E é por essa ocasião que todos nós começamos a notar a presença de um jovem de 15 anos de idade, loiro e de fino aspecto, que muito interessado se mostra por todas essas actividades de esclarecimento da população.

Por essa altura, ainda a Academia se encontrava de relações cortadas com a velha Sociedade Filarmónica Incrível Almadense (esta fundada em 1848, em pleno reinado de D. Maria II, no rescaldo da Revolução da Maria da Fonte, que apeara a ditadura de Costa Cabral, e que, dada a tremenda dificuldade em se constituir nessa altura uma associação popular – já nesse tempo… -, adoptou o nome insólito de Incrível…), situação anómala e lastimável que não dignificava uma vila de trabalhadores, tão progressiva como Almada.

Esse jovem, de nome Alexandre Castanheira, aluno liceal e mais tarde universitário sem que tivesse perdido ano algum (um aluno distintíssimo e mui prometedor, como nestas circunstâncias são noticiados no carnet mondain os meninos-bem…), além do estudo dedicava já um amor visceral à vida associativa da sua terra e um acrisolado interesse pelo povo trabalhador.

Até aqui nada haveria a acrescentar sobre este rapaz, pois o Alexandre Castanheira começava como todos nós e até como muitos outros, que, infelizmente, após o curso universitário e o casamento, se acomodam, tratam da vidinha, esquecendo tudo e todos sem o mínimo respeito pelas antigas opiniões e atitudes.

Mas com aquele jovem loiro (que assinava agora os primeiros poemas com o pseudónimo de Edgard Castanheira) tudo se iria processar, e exemplarmente, de modo diferente. Sem o mínimo esmorecimento foi galgando os anos liceais e universitários, dando ao mesmo tempo uma importante colaboração às actividades culturais do concelho de Almada. Palestras, recitais de poesia (colaborou até com o Orfeão da Academia de Amadores de Música, dirigido pelo Fernando Lopes Graça), aulas de francês, cargos directivos na Incrível e no Grupo Campista. Que fogos de campo ele organizou!

(…)

Em 1947, pertencia à Comissão Central do MUD Juvenil, actividade que prolongou por mais sete anos. Veio a campanha do general Norton de Matos como candidato à Presidência da República, e a voz do Alexandre foi ouvida em todo o distrito de Setúbal.

Claro que, entretanto, a Pide havia preenchido já a sua ficha de anti-fascista e anotado essa actividade consequente ao ponto de o hospedar por várias vezes nas suas enxovias. Aqui não deve ser olvidada a actividade colaborante de sua Mãe – uma grande e corajosa mulher! – que, sem descanso, lutou nas negras horas pela libertação do filho. Abaixo-assinados, surtidas à sede da polícia política, tão insistentes e intimoratas que obteve (naqueles vergonhosos tempos!) permissão de ser recebida e de até discutir com o chefe supremo da Pide de então, o famigerado Neves Graça.

Por volta de 1954 (perdoa, caro leitor, a citação destas datas!), o Alexandre, com a licenciatura de Histórico-Filosóficas concluída, desapareceu do nosso convívio. Os pais haviam saído de Cacilhas para outro lugar, e nós pouco ou quase nada sabíamos do destino daquele jovem doutor, que tão bruscamente se eclipsara dos amigos e do movimento associativo almadense.

No Outono de 1956, viajávamos numa camioneta nos arredores de Lisboa, quando nos tocam nas costas. Era ele! Mas sempre o mesmo: risonho, jovem e irrequieto de esperança. E não tardou a explicação da ausência: militava no Partido Comunista Português e mergulhara na clandestinidade sem demora, porque não podia continuar a viver dentro e fora da cadeia…

Mais vinte anos vão decorrer sem que o cidadão Alexandre Castanheira visite a terra natal. Todos sabemos que reside em França e é membro do sindicato CGT da fábrica de automóveis Renault, exercendo o cargo de secretário do Movimento Francês Contra o Racismo. No exílio, licenciou-se igualmente em Letras Modernas Francesas, pela Universidade de Paris. A sua absorvente actividade social e política, na luta travada contra a ditadura fascista, limitou, como é natural, o professor e o poeta nas suas realizações.

Após o 25 de Abril, este nosso querido amigo visita por duas vezes a sua (e nossa) terra natal, e em ambas as permanências presenteia os patrícios com palestras e recitais de poesia. E, da última vez que nos abraçamos, entrega-nos uma peça teatral, intitulada Chico do Norte, com o pedido de que lhe acrescentemos algumas palavras de apresentação.

Chico do Norte é um belo e corajoso texto teatral elaborado para a defesa da Reforma Agrária, a conquista maior da Revolução de Abril. Peça didáctica, muito precisa nos seus objectivos, servida por figuras e problemas dos nossos campos, homens e mulheres mergulhados em moral-velha, de figurino feudal, e espoliados desumanamente no viver quotidiano.

Ao longo de dois actos e um epílogo, o autor retrata uma família de camponeses nortenhos – Chico Carrapeto e os seus –, que se debate entre a hipoteca da courela ao agrário-insaciável e a miragem-recurso da emigração.

(…)

Mas lentamente, muito lentamente (como a consciência de classe é, por vezes, morosa a conquistar os próprios interessados!), homens e mulheres ganham lucidez e descobrem o lado (o seu lado) da razão e os remédios para debelarem tanta miséria.

Almada, 20 de Outubro de 1977»

Romeu Correia

(No prefácio a “Chico do Norte”, texto para Teatro, de Alexandre Castanheira. Setúbal, 1977)

Mais informação:

Biografia de Romeu Correia:
pt.wikipedia.org/wiki/Romeu_Correia

Biografia de Alexandre Castanheira:

“Chico do Norte”, teatro de Alexandre Castanheira


(Um excerto do epílogo de “Chico do Norte”, texto para Teatro, de Alexandre Castanheira: Chico Carrapeto, “dito Chico Beirão, depois Chico do Norte”, encontra-se com o filho, Toino, em Paris - para onde este tinha emigrado – e tenta convencê-lo a regressar a Portugal. A acção decorre pouco depois do 25 de Abril de 1974.)

Toino: E terei trabalho lá em baixo, pai?

Chico: Pois claro que tens, Toino. A Cooperativa é de todos. Vais trabalhar como os outros.

Toino: Ainda me parece um sonho!

Chico: Mas não é Toino. Portugal é outro!

Toino: Oh pai, não diga isso! Qual Portugal!? O Alentejo! O Alentejo é que é outro. Veja lá o que fazem no Norte! Atentados, bombas, fogos em sedes, fogos nas matas, eu sei lá…!

Chico: Não, Toino! O povo é o mesmo no Norte e no Sul. A exploração e os exploradores são os mesmos. Os explorados também. O povo do Norte é tão bom como o povo do Sul mas há coisas que lhe escondem.

Toino: Ele é que não quer ver!

Chico: Não é verdade, Toino. Estás a falar mal de ti mesmo e de mim. Eu sou do Norte e tenho honra nisso. Mas enquanto fui Chico Beirão, em Amarante, era um trabalhador que sabia que era explorado, que sabia bem que era o Freitas e os seus amigos que nos exploravam, mas não sabia como podia lutar contra ele. Ele tinha tanta força! Tinha tudo nas mãos: os salários, o Grémio, a polícia e a terra que era o nosso ganha-pão!

Toino: E a Câmara!

Chico: Tudo, Toino, tudo! É difícil um homem mexer-se contra um tal poder. E depois eu sabia o que pensava, mas já não sabia o que pensava o Elias, mesmo ao nosso lado, nem o Esteves, logo a seguir, nem o Machado, o Abílio, todos os que estavam na mesma que eu… Não nos misturávamos, não discutíamos, a não ser quando havia algum temporal que a todos prejudicava. Então sim, estávamos todos unidos contra o tempo, quem pagava as favas era o tempo. Mas contra o Freitas, isso já ninguém ousava unir-se, senão acontecia como aos operários da têxtil e das minas. Ia tudo pró chelindró da PIDE!

Toino: Mas isso também se passava no Sul, pai!

Chico: Enganas-te, Toino. Quando fui parar com a tua mãe ao Alentejo aprendi coisas que me abriram os olhos. Lá o patrão não era o Freitas, era o Durão. Mas eram iguais um ao outro. Só pensavam em explorar, em viver à custa dos trabalhadores. Mas havia no entanto diferenças também, e importantes.

Toino: Quais?

Chico: Olha, o Freitas, a gente tinha-o sempre debaixo de vista. Passeava na terra, viamo-lo na Câmara, vinha discutir à nossa casa o pagamento das rendas, recebia-nos no Grémio, eu sei lá… Qualquer passo que déssemos, lá o tínhamos na frente, mandão, autoritário, ameaçador. Era o cacique da terra, o dono de tudo, das terras e dos homens, do gado e das pastagens, das sementes e dos adubos, dos celeiros e dos armazéns. Pela força do dinheiro comprava tudo. Até homens, filho, até homens!

Toino: E esse tal Durão?

Chico: Era diferente. Só ía à casa que tinha na propriedade do Rosal no tempo da caça. O resto do tempo morava em Lisboa. Casara com a filha dum banqueiro da capital e não gostava nada do Alentejo. Queria era festas e ópera e viagens ao estrangeiro. Por isso o Durão era o patrão, o dono de tudo também, mas quem nós víamos na nossa frente era o capataz, um tal Gregório. Um malandro, claro está. Mas com ele era só a questão das jornas que nós discutíamos.

Toino: E as sementes?

Chico: Mas não, filho. Nós no Alentejo não tínhamos terra. Quando passei a ser o Chico do Norte só tinha os braços, nada mais. E todos os outros trabalhadores eram como eu – só os braços, Toino. Não havia rivalidade entre nós. Estávamos todos iguais deante do lacaio do patrão. Por isso estávamos todos unidos também. O Durão era maior agrário ainda que o Freitas, mas não era o cacique. Olha Toino, na cabeça dos trabalhadores tinha mais peso o que dizia o “Avante!” que o que dizia o Durão. Já vês que é muito diferente! Por isso a luta é mais difícil no Norte, é mais difícil de fazer conhecer a verdade da Ravolução aos pequenos agricultores do Norte. Até o padre às vezes não ajuda!

Toino: Quem? O padre Soares?

Chico: Esse não ajuda mesmo nada a esclarecer! Se queres saber, antes de te vir buscar a Paris, resolvi ir à terra, tanto mais que a Zefa, de Santo Tirso, estava muito mal e tinha-me escrito a dizer que me queria ver.
Toino: está melhor?

Chico: Está sim, melhorou muito. Ainda não é desta que irá pró céu.

Toino: Ainda bem, que eu gosto muito dela e ainda a quero ver. Quando eu me puser a falar francês deante dela, o que ela vai rir!

Chico: Mas como te ia dizendo. Fui à terra. Falei com o Elias e o Estevas. Não sabiam de nada!... Pensavam que nós no Alentejo tínhamos roubado a terra, a casa, as máquinas, o gado, tudo, ao agrário e a todos os que tinham um pedacinho de seu! Diziam que tínhamos dividido tudo entre nós e que andávamos agora a vender tudo para continuarmos à boa vida, sem trabalhar. Que só queríamos era comer e dormir com as filhas de um e de outro no maior dos deboches. Que estávamos a dar cabo e tudo o que o patrão e os pequenos agricultores tinham conseguido arranjar ao fim de uma vida de trabalho!

Toino: Não é possível, pai, eles não lhe disseram isso…!
Chico: Disseram, pois! E sabes quem lhes tinha metido isso na cabeça? O padre Soares! O malandro do Freitas, depois do 25 de Abril, aparece menos. Fio posto fora da Câmara por uns democratas do MDP/CDE, no Grémio perdeu força ou tem medo de empregar a força antiga, o que sei é que aparece menos. Deve ter medo que a Revolução vá também prá frente no Norte e lhe venha pedir contas e, por isso, prefere que não dêem por ele.

Toino: Então as coisas melhoraram!

Chico: Melhoraram qual carapuça! O malvado o que fez? Comprou o padre Soares! Este é que vai lá a casa dele constantemente e depois vai de rua em rua, de casa em casa contando o que segundo ele estão fazendo no Sul os comunistas – que é como ele chama aos alentejanos. E depois, ao domingo, na missa, não queiras saber: “Livrai-nos Senhor das forças do mal que roubam as terras a quem as trabalha, roubam o pão aos nossos trabalhadores, fazem trabalhar os velhos ou, se já não servem para trabalhar, dão-lhes uma injecção por trás da orelha e matam-nos logo para não serem obrigados a dar-lhes de comer”!

Toino: E ninguém dá cabo desse mentiroso?

Chico: Isso era o que a reacção queria, filho. Se um dia alguém der uma sova ao Soares, então será o Freitas que reaparecerá a gritar: “Já cá chegaram os comunistas! Começou a violência comunista! Unamo-nos contra os comunistas!”

Toino: Malandro!

Chico: Queres tu ver do que eles são capazes? Quando foi a entrega do tractor dos emigrantes à Cooperativa de Lousada, dois dias antes os dirigentes da cooperativa receberam cartas dizendo que se aceitassem o tractor seriam mortos, pois o tractor tinha dos comunistas e, portanto era obra do diabo e precisava, por isso de ser destruída! Na véspera a terra apareceu cheia de papéis avisando o povo de que não deviam deixar lá entrar aquele engenho do demónio, que o deviam destruir à entrada! O povo não o fez e recebeu em festa o tractor, mas à noite nesse dia ninguém se atrevia a andar na rua com medo de alguma vingança! Já vês o ambiente que a reacção faz reinar no Norte!

Toino: De facto, assim deve ser difícil de mostrar àquela gente o que na verdade se passa desde o 25 de Abril…

Chico: Pois é. Precisamos todos de os ajudar a compreender. Ir lá explicar-lhes ou escrever à família a contar como é a verdade. Eu, quando lá fui, foi o que fiz. Falei com o Elias e o Esteves. Eles saíram-se com aquelas mentiras todas. E eu disse-lhes: vocês querem conhecer a verdade? Têm confiança em mim? Temos sim Chico e queremos ouvir-te. Então organizem uma assembleia de pequenos proprietários na Casa do Povo, que eu vou lá explicar.

Toino: E eles?

Chico: Eles? “Na Casa do Povo?”, perguntou o Esteves. Pois, respondi eu, não é a casa de todos agora? “De todos?” Foi a vez do Elias falar: “Ela continua a ser do Freitas e nem está aberta. Há mais de um ano que está fechada!”. Eu então expliquei-lhes o que nós tínhamos feito à nossa, como a puséramos ao serviço de todos e disse-lhe: “Então se não pode ser lá, que seja na casa de um de vocês”. E assim foi. No dia seguinte, quando cheguei de casa da Tia Zefa, fui à casa do Abílio e fiz a reunião de explicação. Não estavam lá muitos, pois alguns tiveram medo, como se ainda estivéssemos em fascismo. Contei-lhes tudo o que fizemos com a terra da reforma agrária. Nunca tinha visto olhos tão esbugalhados!...

Toino: E eles convenceram-se?

Chico: Sabes filho? Como sou do Norte penso que acreditaram. Mas não esqueças que logo no dia seguinte já o Soares e o Freitas devem ter recomeçado a sua obra de destruição reaccionária…

Alexandre Castanheira
"Chico do Norte", Teatro, Setúbal, 1977

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Roncos do Diabo na Aula Magna de Lisboa

O som e energia contagiante do grupo folk, Os Roncos do Diabo, de Almada, vão subir ao palco da Aula Magna de Lisboa, no próximo dia 1 de Março, pelas 21h00 horas, na abertura de mais um Festival de Tunas agendado para o palco lisboeta.

André Ventura (Gaita-de-Foles); João Ventura (Gaita-de-Foles); Mario Estanislau (Gaita-de-Foles); Vítor Felix (Gaita-de-Foles) e Tiago Pereira (Percussão); são os nomes que constituem este magnífico grupo de música tradicional portuguesa, que vai ter a obrigação de abrir a primeira edição do Festival de Tunas Femininas, «O Traçadinho». Depois de algumas actuações caseiras, como a abertura da Mostra de Teatro de Almada, segue-se o palco da Aula Magna de Lisboa, a convite da Tuna "A Feminina", organizadora do festival. A promessa de um grande espectáculo está por isso assegurada, em muito por culpa da participação dos Roncos do Diabo que, aliados da sua musicalidade folk, vão com certeza proporcionar um grande momento musical. B.R.M.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Arquivo Histórico - um exemplo a seguir

(Texto de Artur Vaz, publicado originalmente no semanário Notícias de Almada, e reproduzido aqui, com permissão do autor)


neste espaço (*) alvitramos o que representa de importante o gosto e o incentivo pela leitura. Dada a sua pertinência, resolvemos falar sobre esta questão, face ao meritório trabalho desenvolvido pelo Arquivo Histórico Municipal de Almada, com a realização das suas exposições documentais.

Esse contributo de inegável valia – tanto para professores como também para a camada estudantil – tem dado ao longo destes sete anos a conhecer um vasto leque temático muito precioso para a formação intelectual e social da própria comunidade.

Pondo à disposição do visitante raros documentos do grandioso acervo existente no Arquivo, é sempre elaborado um folheto no âmbito de cada exposição com um rigoroso texto de apoio, onde mais uma vez é digno de testemunhar o nosso apreço ao Dr. Alexandre M. Flores e a toda a equipe por si coordenada, que por mera carolice presta-nos um serviço de utilidade pública, sem grandes encargos para a autarquia.

Recordamos que uma das mais graves carências nas bibliotecas das escolas do nosso ensino básico e secundário é a não existência de um espaço destinado às obras de cariz local, importante fonte de cultura e saber.

Ora é a pensar nessa vertente que estas exposições do Arquivo Histórico, pode colmatar esta lacuna e ao mesmo tempo funcionar como estimulo para a elaboração de mais actividades extracurriculares, completando o trabalho efectuado nas sala de aulas e aumentando o nível de conhecimentos e de saber sobre a própria comunidade.

A exposição patente na Casa Pargana até 14 de Março, aborda a temática da agricultura em Almada e seu termo, durante o período compreendido entre o Renascimento e as grandes revoluções liberais.

Para além de várias iluminuras sobre a vida rural, com predominância para o cultivo da vinha, cereais e oliveira, pode-se ver expostas várias obras de autores locais sobre a temática, bem como diversos manuscritos raros, dos quais destacamos: Livro de registo à Decima: Freguesia de São Tiago, de 1680; Livro das Posturas, de 1750; Livro de registo relativo 8º dos Vinhos, de 1772; Livro de registo relativo à Décima: Prédios Rústicos e Urbanos – Freguesia de Nª. Sra. do Monte da Caparica, de 1826 e Livro de registo de entrada de pão no celeiro, de 1872, preciosidades acessíveis na Divisão de História Local e Arquivo Histórico, aos estudiosos e investigadores da história de Almada.

Somos da opinião que as escolas, nas suas múltiplas experiências educativas, devem proporcionar acções de acesso ao património cultural, abrindo perspectiva a um intercâmbio entre as escolas e os agentes culturais (bibliotecas; arquivos municipais e escritores locais).

Neste contexto, para a fruição deste património, é necessário que se faça uma ampla sensibilização pela história da própria comunidade, constituindo assim uma mais valia na formação dos alunos e porque não também dos professores – os quais, em regra geral, não são oriundos do meio onde leccionam – tornando-se, por isso mesmo, vital para sedimentar o seu nível sociocultural.

Deixamos aqui um desafio – em jeito de repto – a todos os professores das escolas de Almada a visitarem com os seus alunos as exposições documentais do Arquivo Histórico.

Esta fonte de cultura que brota diversidade histórica nas suas publicações Anais de Almada e Almada na História, oferece-nos ainda nestes eventos uma incursão pelo património almadense, fruto de muitas horas de pesquisa e recolha de informação, permitindo aos visitantes um contacto de valor ímpar para a preservação da memória do nosso concelho.

Creiam que vale a pena, porque a obra do Arquivo Histórico é um exemplo a seguir.


Artur Vaz
Jornalista e escritor


(*) o autor refere-se à sua coluna de opinião no jornal Notícias de Almada

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O Carnaval nos rostos de Fernão-Ferro

Por: Bruno Rodrigues Martins

Fotos de: Bruno Rodrigues Martins

Foram às centenas os disfarces carnavalescos que conquistaram as ruas de Fernão-Ferro, no passado dia 1 de Fevereiro. Fadas e duendes, navegadores e palhaços, desfilaram juntos nas ruas da localidade, espalhando cor e folia.

Ninguém ficou indiferente ao desfile de Carnaval, oferecido pelas diversas escolas e infantários da freguesia. Ao todo, foram mais de 900 crianças a espalhar folia entre os moradores de Fernão-Ferro, que não ficaram em casa a “ver a banda passar”. Vestidos a rigor, como dita a lei do disfarce carnavalesco, saíram à rua e acompanharam os mais pequenos. Nem mesmo o Presidente da Freguesia de Fernão-Ferro, o Dr. Carlos Pereira, acompanhado da restante comitiva, ficou indiferente ao divertimento e à festa. Todos deram o seu «pezinho de dança», aos sabores do folclore do Entrudo, no qual as crianças foram as figuras principais.

Mensagem dos mais pequenos: No meio da diversidade de temas, o que mais saltou à vista foi o Meio Ambiente. A reciclagem, a defesa da natureza e a política dos 3R´s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), foram os temas em destaque nas muitas faixas e fatos do corso. A toada deste foi lenta, mas divertida, em muito por culpa do entusiasmo das várias crianças que nele participaram. Este não foi contudo o único do Concelho do Seixal, a julgar também pelas iniciativas das restantes freguesias. Ao todo e no mesmo dia, perto de 4 mil crianças desfilaram pelo concelho seixalense em nome do Carnaval de 2008.